Mestre Cupijó

Mestre Cupijó

Para conhecer a vida do Mestre Cupijó é fundamental desvelar o profundo significado da palavra mestre. O sentido literal da palavra mestre, segundo a língua portuguesa, é instrutor, educador, chefe, guia e artesão. Para ritmos folclóricos e populares como o Siriá, proeminente criação musical dos negros e índios da cidade de Cametá, no nordeste do Pará, mestre tem um quê a mais do que esses significados. É o compositor, o músico, o cantor e, sobretudo, o divulgador de um ritmo que sobrevive aos séculos esbanjando alegria e amor às nossas raízes.

No Siriá, quem sustenta o posto máximo é um advogado de jeito calmo e modesto, Joaquim Maria Dias de Castro, ou para ser exato o Mestre Cupijó, considerado o reinventor do Siriá e responsável por torná-lo conhecido no Brasil e mundo afora.

Distante dos holofotes e da grande mídia que um artista responsável por tantos feitos poderia desfrutar, o Mestre Cupijó viveu na pacata Cametá e teve como quintal o imenso rio Tocantins, que lhe inspirou a realização de tantos trabalhos musicais.

Cupijó iniciou no meio musical aos 12 anos, pelas mãos do pai, Vicente Serrão de Castro Filho, que também era músico. Um ano depois, o menino já se iniciava no universo musical tocando clarinete no “Jazz Batuta do Ritmo” e depois na centenária Banda Euterpe, fundada em 1874, da qual o pai era maestro e regente. Aliás, a ligação de Cupijó com a banda se estenderia por mais tempo.

Quando seu pai morreu, em 1961, o jovem se juntou a outros músicos para não deixar a banda acabar. Daí em diante, estavam fadados ao sucesso. A partir da década de 1970, gravaram seis LPs e um CD seguidos, pelas gravadoras Continental, Escorpião e Chantecler, tendo como carros-chefes músicas folclóricas cametaenses como o Samba de Cacete, o Banguê e, claro, o Siriá. O primeiro vinil foi gravado na sede “Império de Samba Favela”, em 1973, ali mesmo em Cametá.

Com uma nova roupagem dada ao ancestral ritmo Siriá tornando-o mais acelerado e, portanto mais audível aos ouvidos do mundo, Mestre Cupijó ganhou o sucesso e fez expandir e transpor fronteiras geográficas.

Sua música estourou dentro e fora do país. Virou tema musical de filmes e foi regravada por cantores 

internacionais muito populares na época, como o português Roberto Leal, que levou para o mundo a canção “Siriá” com coreografia feita em trajes tradicionais de Portugal. Mistura essa bastante interessante para o Siriá, cujo nome derivou-se da palavra siri, influenciada pelo sotaque dos caboclos e escravos do Baixo Tocantins; e cuja dança tem evoluções parecidas com as do Carimbó, só que com um tempero a mais de sensualidade.

“A música cametaense é marcada como antes e depois de Mestre Cupijó. Ele fez a releitura de ritmos como o Siriá, que antes era tocado de forma rudimentar. Cupijó deu a ele mais musicalidade com a incorporação de outros instrumentos de sopro e cordas”, destaca Manoel Valente, historiador e autor do livro “Tambores – Ritmos e rituais da Amazônia Tocantina” (2010).

Além da atividade musical, Mestre Cupijó atuou em outras áreas. Foi professor de alfabetização de adultos, assessor jurídico e vereador de Cametá no auge de sua carreira. E, ainda, num dos intervalos dessas atuações, foi um dos criadores do “Festival de Músicas Carnavalescas de Compositores Cametaenses” e deu seus passos no carnaval de Cametá, um dos mais tradicionais do Pará, como presidente da Embaixada de Samba Não Posso Me Amofiná.

Mestre Cupijó foi e sempre será um artista nato, completo e responsável por reinventar o Siriá e torná-lo conhecido no Brasil e no exterior. Também foi um dos mais importantes divulgadores de outras músicas folclóricas cametaenses, como o Banguê e o Samba de Cacete. Suas músicas se tornaram referência e foram gravadas e imortalizadas por cantores nacionais e internacionais como Fafá de Belém e o português Roberto Leal.

Texto: Daniel Rodrigues. (Fonte: www.sinhazozima.com.br)